"A cor azul sempre me fascinou desde os primórdios das minhas atividades artísticas. Primeiramente, nas investigações pictóricas dos anos 1980-90, quando produzi muitas telas monocromáticas nessa cor, as quais remetiam a vistas espaciais ou aéreas da superfície da Terra." (Dione Veiga Vieira)
Quando o cosmonauta soviético Yuri Gagarin saiu do nosso planeta em 1961, declarou: “A Terra é azul!”.
Esse depoimento causou certo impacto no cenário artístico da época.
Não foram poucos os artistas que começaram a se relacionar de outras formas com a cor, utilizando-a em seus trabalhos sob novas perspectivas.
O azul é muito presente no trabalho da artista Dione Veiga Vieira, não apenas pelo interesse sobre a cor em si, mas também pelo que ela pode representar estando no cerne de alguns dos temas que aborda.
Sua obra tem um caráter simbólico e brinca com os sentidos das palavras. A artista muitas vezes extrai do mar – literal ou do pensamento – ferramentas físicas, mentais ou sensoriais para sua poética.
O céu, que muito bem representa a imaterialidade, também aparece em seu trabalho. O azul é imaterial justamente por representar aquilo que existe de mais transparente e intangível na natureza: o céu e a água.
No trabalho “Zonas de metamorfismo”, a artista parte de uma fotografia para abordar relações entre arte e ciência, mais precisamente a geologia.
Sem o registro feito pela câmera fotográfica da artista, talvez o olho humano não fosse suficiente para identificar as cores, formatos e texturas presentes na cena.
Assim como na pintura, a fotografia nos dá a possibilidade de escolhermos o que iremos privilegiar em uma imagem, e aqui Dione nos coloca diante das texturas naturais da paisagem, existentes nas rochas, e da gradação de tons azuis apresentados pelo mar que parece tocar o céu.
A imagem nos convida a um olhar atento, capaz de identificar todas as suas minúcias.
Ainda pensando que Dione utiliza metáforas e simbologias, o trabalho intitulado “Solutilis” registra uma coleção de vidros sendo observados de cima.
As imagens formadas ali os transformam em outras coisas, que nos remetem a elementos que vão desde células até águas-vivas, flutuando em uma profunda escuridão.
A artista relata não utilizar uma extensa variedade de cores em seus trabalhos, mas privilegiar o azul por ser “a cor mais próxima da escuridão”, pensamento que muito se relaciona com o de Yves Klein, que em certo momento afirmou: "em primeiro lugar não há nada, então há um profundo nada, depois disso uma profundidade azul…”