*Ana Zavadil
Tempo no vazio
No vestígio
Na continuação ...
O olhar do tempo
E o nosso tempo de olhar
O vazio, o silêncio
Tempo do silêncio
E o silêncio do tempo.
Uma ausência, uma passagem
Espaços vazios
Vazios cheios de espaço
E de tempo ...
Memórias construídas de fragmentos
Fragmentos que indicam a passagem do tempo
Tempo que sulca caminhos no coração
Perda,
Memórias,
Ausência,
Renovação ...
Tempo no vazio
No vestígio
Na continuação ...
O olhar do tempo
E o nosso tempo de olhar
O vazio, o silêncio
Tempo do silêncio
E o silêncio do tempo.
Uma ausência, uma passagem
Espaços vazios
Vazios cheios de espaço
E de tempo ...
Memórias construídas de fragmentos
Fragmentos que indicam a passagem do tempo
Tempo que sulca caminhos no coração
Perda,
Memórias,
Ausência,
Renovação ...
O tempo parece ser o grande instaurador da obra de Dione Veiga Vieira, este tempo que a tudo consome e traz à tona a condição impermanente do ser humano, nos faz refletir sobre o que se poderia pinçar desse fluxo intermitente senão às memórias. Os vestígios desse tempo deixado nos objetos que pertenceram a alguém e hoje, invadidos pelo silêncio, vazios e imóveis, onde as essências são apenas lembranças, estão todos ali pontuando uma certa ambigüidade, as suas presenças nada mais são do que as memórias de uma ausência.
Porque a obra de Dione causa tanto impacto, atingindo o espectador em cheio, porque ela incomoda?
Ao percorrer a grandiosidade do espaço de exposição, o trajeto nos instiga à reflexão constantemente. Nas duas paredes grandes que levam ao fundo, de um lado, estão colocadas imagens tantas vezes repetidas da fotografia de um mesmo vestido vazio, todas em molduras pretas de madeira, onde em cada uma delas a imagem é manipulada digitalmente, contrastando com a sua montagem simples. Nossa reação é associar de maneira inelutável com a ausência de alguém. No outro lado, numa linha paralela as fotografias do vestido vazio, na mesma disposição, repetem-se muitos espelhos, eles são pequenos, e também emoldurados em preto. Conforme caminhamos, vamos vendo a nossa imagem refletida, este é mais um momento para se pensar na existência. Não é mais a obra de Dione que estamos vendo, mas a nós mesmos e a nossa própria fragilidade.
No centro do espaço a imensidão de um tecido branco sobre o chão, cheio de marcas do tempo e das cinzas que trazem de volta outros tempos: “após as cinzas de todos os tempos passados terem sido espargidas pelo vento que entrou pela porta descuidadamente aberta, parece que uma paisagem árida entrou dentro dos olhos de todos para sempre”. (Vieira, 2003). As palavras de Dione são certeiras e nos tocam profundamente.
Nossa sensibilidade é posta à prova ao entrarmos na parte mais “íntima da exposição”, locais pequenos e separados por cortinas brancas, são como quartos que resgatam a história de vidas passadas: são cadeiras sem assento, mesas sem tampos, vestidos vazios, tudo ali fala de uma ausência muito profunda. Algo muito forte se apodera de quem ali entra; a nossa condição de transitoriedade, esse impacto nos chega sem muito esforço, somos seres temporais e esse tempo impalpável nos mostra esta realidade. Somos atingidos no que de mais frágil possuímos, na nossa única certeza: a morte. Nesse momento realmente conseguimos entrar na obra da artista, a leveza do ambiente, porém, dotado de uma grande carga de significados, a desmaterialização da vida que se faz ali presente, nos incomoda pela irreversibilidade que sabemos existir no tempo.
Porque a obra de Dione causa tanto impacto, atingindo o espectador em cheio, porque ela incomoda?
Ao percorrer a grandiosidade do espaço de exposição, o trajeto nos instiga à reflexão constantemente. Nas duas paredes grandes que levam ao fundo, de um lado, estão colocadas imagens tantas vezes repetidas da fotografia de um mesmo vestido vazio, todas em molduras pretas de madeira, onde em cada uma delas a imagem é manipulada digitalmente, contrastando com a sua montagem simples. Nossa reação é associar de maneira inelutável com a ausência de alguém. No outro lado, numa linha paralela as fotografias do vestido vazio, na mesma disposição, repetem-se muitos espelhos, eles são pequenos, e também emoldurados em preto. Conforme caminhamos, vamos vendo a nossa imagem refletida, este é mais um momento para se pensar na existência. Não é mais a obra de Dione que estamos vendo, mas a nós mesmos e a nossa própria fragilidade.
No centro do espaço a imensidão de um tecido branco sobre o chão, cheio de marcas do tempo e das cinzas que trazem de volta outros tempos: “após as cinzas de todos os tempos passados terem sido espargidas pelo vento que entrou pela porta descuidadamente aberta, parece que uma paisagem árida entrou dentro dos olhos de todos para sempre”. (Vieira, 2003). As palavras de Dione são certeiras e nos tocam profundamente.
Nossa sensibilidade é posta à prova ao entrarmos na parte mais “íntima da exposição”, locais pequenos e separados por cortinas brancas, são como quartos que resgatam a história de vidas passadas: são cadeiras sem assento, mesas sem tampos, vestidos vazios, tudo ali fala de uma ausência muito profunda. Algo muito forte se apodera de quem ali entra; a nossa condição de transitoriedade, esse impacto nos chega sem muito esforço, somos seres temporais e esse tempo impalpável nos mostra esta realidade. Somos atingidos no que de mais frágil possuímos, na nossa única certeza: a morte. Nesse momento realmente conseguimos entrar na obra da artista, a leveza do ambiente, porém, dotado de uma grande carga de significados, a desmaterialização da vida que se faz ali presente, nos incomoda pela irreversibilidade que sabemos existir no tempo.
As prateleiras vazias, as caixas de guardados que compõem a memória, os ganchos vazios de teor agressivo, assim percorremos este espaço perdidos nos próprios pensamentos. A última parada: uma mesa vazia, a toalha contendo as marcas dos pratos e copos, o resto tomado pelas cinzas e pelas ervas que se alastram ocupando os espaços. E tudo nos é dado a crer que existe um ciclo de vida onde a natureza retoma o seu lugar, o lugar de alguém.
Dione consegue re-significar tantos objetos banais, “as coisas são elas próprias e algo mais. Esse algo brota do inconsciente para costurá-las de sentido”. (Moraes, 2004) Muitas são as mensagens que recebemos, a colher, o ovo, a toalha, todos objetos que têm aqui um novo significado relacionado ao alimento, ao útero que guarda a vida, à refeição em família.Todo o conjunto continua respondendo a mesma temática: a da perda, porém com uma abertura para a renovação.
O espaço todo dialoga, o contraste do branco e do preto com algumas inserções do sépia e de azul já trazem uma certa unidade, indicam que todos os fragmentos que narram esta belíssima exposição falam dos vestígios de uma memória através do tempo. É o presente dialogando com o passado através de tantos objetos. Paulo Gomes, na sua Dissertação de Mestrado fala sobre o presente contínuo, como um desejo:
“onde os objetos, as idéias e emoções que eles contém sejam independentes do seu tempo de existência. [...] Uma impossibilidade de localização temporal, mas uma possibilidade de existência independente das cronologias. Como as memórias, talvez...[...] mas o que o tempo pode fazer com os objetos e com as memórias das pessoas e como esse mesmo tempo pode ficar retido em um fragmento e vir à tona em toda a sua potencialidade ao ser processado ou apresentado enquanto obra.” (1998,p.39)
Na obra de Dione os fragmentos e os objetos trazem essas características, não existe um tempo para as memórias, mas, existe um tempo para as ausências, e cada fragmento e objeto têm a potencialidade de fazer aflorar os sentidos de quem os vê, dependendo da maneira como cada um o sente. A idéia de passagem que fica desses fragmentos, que falam de perda, está na idéia de que cada pedaço de memória vai formar um todo e constituir uma nova existência. Dando uma outra significação aos objetos ela consegue transformá-los em signos de dor e de ausência. Ela modifica o lugar da exposição tornando-o uma casa devastada pelas intempéries onde restaram as cinzas e deixa transpirar sutilmente que destas cinzas renascerá uma nova vida.
Dione Veiga Vieira consegue através da sua obra passar sentimentos muito fortes aos visitantes, suscitando uma reflexão da presença do ser no mundo. O seu trabalho é instigante, passível de uma análise profunda, de modo que as partes possam ser amarradas para a compreensão do todo, onde a real significação é portadora de uma beleza sem máscaras e ilusões.
*Ana Zavadil – Bacharel em Pintura pela UFRGS-2002, Bacharel em História, Teoria e Crítica de Arte pela UFRGS-2004.
BIBLIOGRAFIA
1 GOMES, Paulo César Ribeiro. Meias Verdades e Mentiras Inteiras: uma poética com fragmentos. Porto Alegre: UFRGS,135 p. Dissertação (Mestrado)-PPGAVI, Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre, 1998.
2 MORAIS, Angélica de. Índices de Ausências. In: Fragmentos Primordiais. Porto Alegre: Instituto Estadual de Artes Visuais/Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, 2004. Catálogo de exposição.
3 VIEIRA, Dione Veiga. A Calcinação, a Unção e a Floração. In: Dione Veiga Vieira. Pelotas: Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, 2003. Catálogo de exposição.
1 GOMES, Paulo César Ribeiro. Meias Verdades e Mentiras Inteiras: uma poética com fragmentos. Porto Alegre: UFRGS,135 p. Dissertação (Mestrado)-PPGAVI, Instituto de Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre, 1998.
2 MORAIS, Angélica de. Índices de Ausências. In: Fragmentos Primordiais. Porto Alegre: Instituto Estadual de Artes Visuais/Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, 2004. Catálogo de exposição.
3 VIEIRA, Dione Veiga. A Calcinação, a Unção e a Floração. In: Dione Veiga Vieira. Pelotas: Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, 2003. Catálogo de exposição.