O Mar que ela habita



 Dione Veiga Vieira. Do Mar Purpúreo/2012. Crédito da foto:Fábio Del Re / Carlos Stein


* FÁBIO PRIKLADNICK


Dione Veiga Vieira  buscou no mar a matéria da exposição que será aberta nesta quarta-feira, às 19h, na Galeria do Instituto Goethe (Rua 24 de Outubro, 112), em Porto Alegre, com performance de Laura Cattani.
Pode ser o mar literal, de onde Dione extrai um ovo - como aparece em uma fotoperformance -, ou o mar do pensamento, da memória e da vida, de onde vêm os objetos dispostos em uma vitrine horizontal, que leva o mesmo título da mostra: Do Mar Purpúreo.
Aberta até 9 de junho (com visitação de segunda a sexta, das 10h às 20h, e sábado, das 10h às 16h), a exposição faz parte de um projeto anual do Instituto Goethe que destaca importantes artistas nascidos ou radicados no Estado. Já participaram Walmor Corrêa, Vera Chaves Barcellos e Karin Lambrecht.
Na expressão de Dione, a nova individual é uma "síntese" das instalações que realizou desde 2000, seguindo um período de reformulação de seu trabalho que teve origem em uma temporada na cidade de Colônia, entre 1989 e 1992, quando tomou contato com o neoexpressionismo alemão. De volta a Porto Alegre, onde nasceu, passou a trabalhar com suportes tridimensionais e com fotografia, ao lado das pinturas e dos desenhos.
Em seu ateliê, a artista guarda caixas com objetos recolhidos em fontes diversas. Expondo seu relicário pessoal, ela dá ao público a possibilidade de estabelecer suas próprias relações: uma pedra que Dione tem "desde os 13 ou 14 anos", colheres compradas em antiquários, tufos de cabelo da artista guardados pela mãe ou um livro sobre a história da civilização que pertencia ao pai. As relações são mais casuais do que aparentam.
Ao reunir um estojo de maquiagem de plástico preto no formato de concha, comprado na Alemanha, e uma concha branca de porcelana, adquirida tempos depois, percebeu que os dois objetos têm o mesmo tamanho, como se fossem verso e reverso. O jogo entre opostos está no cerne do trabalho.
- Extrair um ovo do mar, gesto que é tão inusitado, é como extrair um significado novo. É como tornar visível o que está invisível - afirma a artista.
A ideia de gênese a que aludem alguns dos objetos aparece na obra de Dione desde o início dos anos 2000 e guarda relação com o título da mostra, que ela encontrou ao assistir a um documentário sobre a origem do mar:
- Estou sempre construindo, de certa forma, um pensamento visual, mas, ao mesmo tempo, a palavra influencia nesse processo.
Há mais de 30 anos "discutindo a carga sensorial e evocativa da matéria", como escreve a crítica de arte Paula Ramos na apresentação da exposição, Dione Veiga Vieira convida o público para um mergulho no mar das percepções em busca de uma síntese, por improvável que o objetivo pareça.
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*Texto de FÁBIO PRIKLADNICK para Jornal Zero Hora 01/05/2012 - 07h03min
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